Goth girl, gothcore, clean goth… Seja lá como você quiser chamar, o fato é que a estética gótica está de volta. Conhecida por seu mix riquíssimo de referências que vão desde o romantismo melancólico do período vitoriano, clássicos da literatura de terror, até o movimento punk, com toques fetichistas e inspirações icônicas do cinema, como a eterna Família Addams, a moda gótica não é nenhuma novidade. E, apesar dos clichês visuais que a acompanham – pense em tons escuros, referências religiosas e místicas, profusão de renda e veludo, maquiagem marcante e muita atitude –, seu significado vai bem além do look.
O estilo gótico sempre foi uma forma de traduzir visualmente os pensamentos e medos que habitam o inconsciente coletivo. Ele tem raízes na era vitoriana, especialmente nas roupas de luto. No século XIX, o luto era um ritual levado a sério e incluía peças pretas, rendas e um ar dramático. Ao longo das décadas, o gótico apareceu em grandes obras literárias de terror, como as de Edgar Allan Poe e Bram Stoker, com seus contos habitados por fantasmas, vampiros e outras criaturas sobrenaturais. Nos anos 80, o movimento musical liderado por nomes como The Cure, Bauhaus e Siouxsie & The Banshees, destacou-se pelas melodias sombrias e atmosféricas, com looks que acompanhavam o mood. Já na arquitetura, o brutalismo, com suas linhas duras e imponentes, pode ser considerado uma versão modernista da estética gótica, reforçando seu vínculo com um sentimento de introspecção e resistência ao conformismo.
O cenário global atual, tomado por crises e incertezas, torna o revival da Goth Girl praticamente inevitável. Afinal, a moda é expressão do nosso tempo, e a estética traduz um sentimento profundo, quase visceral, de inquietação. Das passarelas ao red carpet e, claro, às ruas, o gótico é inescapável.
Entre as celebridades, entusiastas não faltam: Cynthia Erivo, protagonista da versão para o cinema do musical Wicked, tem se jogado no method dressing para a turnê de divulgação do longa em uma leitura conceitual do clima inspirado em sua personagem, a Bruxa Má do Oeste.
Outro exemplo de Goth Girl é Charli XCX, que em sua era Brat, encarnou uma Morticia moderna no tapete vermelho.
Camila Cabello anda curtindo o visual, principalmente em sua versão femme fatale, que traz uma leitura mais sexy do estilo.
Quem também é fã do estilo Goth Girl é Anya Taylor-Joy, que transita muito bem entre as diferentes vertentes, ora pendendo mais para o lado punk, ora apostando no clima romance dark.
O sucesso da série Wandinha na Netflix atesta o fascínio atual pela vibe. E Jenna Ortega, que vive a personagem, já virou musa gótica da nova geração, já que seus looks, dentro e fora das telas, conversam com a estética gótica adaptada para os dias de hoje.
Aliás, não se engane, existem muitas maneiras de trazer o espírito gótico aos looks: atualizar os códigos e misturar com referências esportivas e futuristas é uma das mais legais.
Quem acha que só é possível aderir durante as estações frias está enganada. No verão, fluidez e transparências em comprimentos alongados são a pedida.
O revival do lenço de caveiras, popularizado por Alexander McQueen no início do milênio, é outro fator que aponta para a força do gótico em 2024.
Na prática, além do veludo e da renda, peças de couro, detalhes de amarrações e silhuetas femininas também são marcas registradas.
Entre as tendências, uma interpretação fresca da estética, apelidada de clean goth, combina o minimalismo dos anos 1990 com o mood sombrio tradicional, abrindo mão de texturas pesadas e sobreposições para um visual mais polido e sofisticado, como em uma leitura chique com alfaiataria.
Além disso, tonalidades fechadas como marrom, roxo e vinho são frequentes tanto nas roupas quanto na beleza.
A versão mais agressiva e extrema da estética pode ser conferida no vídeo mais recente de Lady Gaga.
Nas passarelas, nomes como Rick Owens e Ann Demeleumeester são fieis ao clima sempre, e na última temporada, o gótico surgiu em inúmeros desfiles. Entre os pontos altos, a designer Dilara Findikoglu, que também carrega o espírito no DNA de sua marca e vem ganhando cada vez mais destaque.
Já a segunda coleção de Seán McGirr para Alexander McQueen foi um trunfo com seu estudo sobre o estilo gótico romântico.
Na beleza, o olho bem marcado com preto é uma aposta clássica que vem se tornando queridinha mais uma vez.
Por fim, Hollywood confirma o interesse renovado pela estética, lançando readaptações de obras que se inspiram no universo gótico. Novas versões de O Corvo e Nosferatu – este último estrelado por Lily-Rose Depp, que deve estrear em breve e já ganhou trailer aterrorizante – são exemplos disso.
Além disso, dois filmes dentro do universo de Frankenstein chegam às telas no ano que vem. O primeiro, com título homônimo, é dirigido por Guillermo del Toro e estrelado por Jacob Elordi no papel principal. O segundo, focado na noiva do “monstro”, é dirigido por Maggie Gyllenhaal e estrelado por Christian Bale e Jessie Buckley.